Gótico (estilo de vida)
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A subcultura gótica (chamada de Dark no início dos anos oitenta no Brasil) é uma subcultura contemporânea presente em muito países. Teve início no Reino Unido durante o final da década de 1970 e início da década de 1980, derivado também do gênero pós-punk. A subcultura gótica abrange um estilo de vida, estando a ela associados gostos góticos em música e em moda e tendo como principal marca o cultivo de um modo melancólico e sombrio de vestimenta, comportamento e análise do mundo. A música gótica inclui vários estilos diferentes; comum a todos é uma tendência para um som e uma atitude “dark”. A estética sombria traduz-se em vários estilos de vestuário, desde death rock, punk, andrógino, renascentista e vitoriano, ou combinações dos anteriores, essencialmente baseados no negro e cores escuras, com roupa, maquiagem e cabelo negros.
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[editar] Subcultura
Foi taxada de "movimento cultural" devido ao princípio ideológico de que tal visão e comportamento são um protesto acerca da ambientação dada na época em que se iniciou, isto é, uma alienação que afirmava uma evolução e liberdade que em verdade eram insuficientes(ou inverossímeis mesmo), e contra a qual a descrença deveria ser usada como denúncia. Apesar de simplista, esta explicação define o pensamento ideal da maioria dos que afirmam pertencer a este grupo. De qualquer modo o mundo não parece ter mudado muito, e o movimento continuou a evoluir cada vez mais podendo basear-se ainda nesse formato.
Mas quanto ao fato de seus integrantes usarem o termo subcultura, ao invés de cultura, para designá-lo, é dada a explicação de que esse estilo é uma invenção ( não também uma reinvenção), não uma renovação, ou seja, ele se criou firmado em várias raízes paralelas e não visa renovar a cultura gótica, nem tão pouco se opor a esta (isso seria ainda uma contracultura, não uma renovação). Sendo assim o estilo gótico do qual estamos falando pode ser tomado como algo anexo do que todos pensam, já que não é uma evolução da cultura orginal, nem mesmo evolução de qualquer coisa outrora nomeada sobre o mesmo termo.
[editar] O termo gótico na subcultura
O termo gótico (do inglês: goth ou gothic) foi usado através dos séculos sob vários significados, às vezes sem ligação alguma. Em algum momento histórico ele pode ter designado certo povo bárbaro que veio a invadir o império romano, mas não devemos nos apegar a isso para não confundir o leitor, pois com o passar do tempo termo ganhou o significados diferentes. A palavra agrega sentidos que lembram: vitoriano, medieval, onírico, sombrio, assustador, fastamagórico, macabro, amedrontador, etc. O uso do termo para designar a subcultura desvinculada da cultura original veio de uma ironia. Na passagem de 70 para 80 o estilo comportamental, visual e musical do qual tratamos estava se desenvolvendo na Inglaterra, e por brincadeira era chamado assim, gótico. Na metade da década de 80 o estilo já havia se disseminado por vários outros países (incluindo o Brasil) e o termo acabou por ir junto com ele e até hoje é usado para denominar a subcultura.
[editar] Enganos frequentes sobre o tema
Desde a década de 90 a subcultura começou a sofrer de algumas distorções por parte de enganos freqüentes como o de que o termo gótico sempre esteve ligado através da história e, portanto os góticos de hoje seriam legítimos descendentes dos visigóticos, godos, ostrogodos, etc. Que esses mesmo teriam iniciado o estilo arquitetônico de construções sacras e também a literatura, quando na verdade as catedrais góticas só começaram a ser construídas no século XI e nem sequer se recebiam esse nome na época em que foram instauradas como arte sacra, pois expressavam a ideologia e estética da igreja católica na época. Os renascentistas e iluministas, que se opunham à ideologia católica da época medieval as chamaram pejorativamente “Góticas” muito depois, justamente como critica. Na época de sua construção eram chamadas "opus francigenarum"(arte francesa). Quanto aos bárbaros "Godos" que invadiram o império romano foi um acontecido dado por volta do século V, logo se vê então que são mais de cinco séculos de diferença histórica cultural, o que já havia feito uma diluição da cultura dos godos na Europa. Do marco da construção das catedrais góticas (Do século XI até XIV) até a época em que surgiu um movimento literário chamado gótico e outro chamado romantismo (Século XVIII para XIX) já haviam se passados mais outros tanto séculos de diferença cultural e, portanto, a imagem de Gótico foi estabelecida como sombrio, fantasmagórico, misterioso, para criticar aqueles que tinham criticado o fim da Idade Média. O que era um nome pejorativo passou a ser um nome designador de uma estética “legal”. Terminamos assim de falar do sentido da palavra através do tempo sem ligá-la totalmente à subcultura e mostrar que até esse ponto os góticos do movimento iniciado na década de 80 não são descendentes dos Góticos dos séculos passados de forma alguma, pois nem sequer eles mesmos tiveram alguma ligação através de suas época. A ligação dos góticos contemporâneos com os antigos movimentos artísticos assim entitulados está nas músicas e na estética de forma indireta. Pra começar a subcultura gótica não possui literatura própria, mas existem vários estilos literários apreciados por seus integrantes, entre eles, no Romance Gótico (Walpole, Mary Shelley, etc), Romantismo (William Blake, Lord Byron, Edgar Allan Poe, etc) a poesia Simbolista/Decadentista (Baudelaire, T.S.Elliot, Rimbaud, Oscar Wilde, etc) o romance Existencialista (Camus, Sartre, etc), Literatura Beat (Gisnberg, William Burroughs), etc. Dessa forma esse movimento fez releituras ou sátiras da Literatura Gótica. Essa Literatura também serviu de tema para movimentos artísticos anteriores, que influenciaram o movimento estético dos anos 1980, como por exemplo o Expressionismo. Outro engano freqüente é a ligação do estilo musical do gótico com outro com o qual nunca teve nenhum contato. Mas para isso é preciso primeiramente conhecer o verdadeiro conceito musical e as verdadeiras raízes da cena gótica ou darkwave como seus membros gostam de chamá-la.
O cerne do movimento dark se encontra no pós-Punk inglês do final dos anos 1970, como uma nova subcultura juvenil que se articula dentro do rock numa inversão de valores ancorada no “do it yourself”. Como ressalta a socióloga Helena Wendel Abramo em seu livro Cenas Juvenis - Punks e Darks no Espetáculo Urbano: “O nome dark foi posteriormente assumido por uma tribo mais jovem, já na segunda metade dos anos 1980, que se vestia quase exclusivamente de negro, e que se considerava ‘filiada’ ao som e ao estilo do rock paulista. Dessa forma, o título passou a identificar, retrospectivamente, o grupo original, e servindo para designar, de certo modo, tanto a sua produção musical quanto algumas das bandas inglesas que eram referência para o grupo tais como The Cure, Joy Division, Siouxsie and the Banshees e The Sisters of Mercy”.
[editar] O Romantismo e o resgate da estética medieval.
"É que cada um tem uma idéia própria , geralmente deturpada, da Idade Média. Só nós monges daquela época sabemos a verdade, mas, ao dizê-la podemos ser queimados vivos". Umberto Eco
O movimento romântico, que se fez presente no século XIX, procurou romper os valores do classicismo, que, assim como o renascimento, exaltava os valores estéticos da antiguidade clássica e o racionalismo. Ao afrontar esses padrões o romantismo faz uma espécie de "reabilitação" da Idade Média e do seu imaginário.Muitas obras românticas, como por exemplo "Notre-Dame de Paris" de Vitor Hugo, têm como cenário a Idade Média. Entretanto a visão dos românticos era extremamente idealizada.
São ainda os românticos os responsáveis pelo surgimento do "gothic novel" ou "romam noir", normalmente ambientados em castelos sombrios e ambientes tenebrosos. O castelo de Otranto, lançado em 1764 por Walpole, é um celebre exemplo disso.A Gothic Novel utiliza o passado como cenografia, pretexto para a construção fabulística, para dar livre curso a imaginação.Walpole pode ser considerado o criador e percursor do "gothic novel". O seu romance foi inovador, rompendo com os padrões literários então vigentes, criando uma atmosfera repleta de personagens inverossímeis, terrores sobrenaturais e castelos arruinados. O estilo fez um tremendo sucesso, sendo copiado por vários autores, indo muito além do romantismo nas formas do conto fantástico, conto de terror e até de ficção científica.
É no romantismo literário que se torna mais aparente e mais facilmente acessível para nós esse esforço sincrético para reintegrar no Bem o Mal e as trevas, herdando toda a dramatização da literatura bíblica e da iconografia medieval. Satã faz sua entrada triunfal como o Mefistófeles de Goethe, sendo o herói byroniano do Mistério de Caim. Faz-se a celebração da noite obscura, que passa a ser o lugar previlegiado da celebração dionisíaca tão presente na obra de Novalis ( Hinos à Noite). Acompanhando o resgate dos valores noturnos temos o pessimismo, a loucura, os sonhos, as sombras, a decomposição,a queda, a atracção pelo abismo, a morte e a urgência pela vida.
Esta inversão de valores é facilmente reconhecida nas obras de Vitor Hugo como Le Fin de Satan e a já citada Notre-Dame de Paris, onde a maldade e a fúria tornam-se num ideal.
O herói romântico traduz-se nas figuras do dândi e do libertino, imortalizados em vida e obra por Wilde, Byron e Sade.
O romantismo abre espaço para o terror diabólico e ancestral nas obras de Edgar Allan Poe, Le Fanu , Bram Stocker e Anne Rice, surgindo da obra destes dois últimos a figura nefasta do vampiro, o amante imortal.
No "dark side" do romantismo portanto, encontramos praticamente todos os elementos estéticos que tanto deliciam os góticos nos dias de hoje... Além da sua origem através da gothic novel.
[editar] Amor aos vermes
Claro que não é apenas no romantismo que os atuais góticos se nutrem, mas é na "escola de morrer cedo" que encontramos as suas referências mais preciosas, além da origem da atual acepção do termo.
Todos os "vermes" na verdade tem a sua contribuição a dar, seja um "Bosch" entre a Idade Média e a renascença, um "Byron" romântico, um "Dali" surrealista, a degenerescência de um Fritz Lang, ou o cinismo cáustico de um Wilde, pois onde quer que surja uma sociedade ordenada e racional, lá surgirá o "verme delirante", receba ele o nome que for. E talvez seja este o princípio estético dos góticos, o amor aos "vermes", não importa a linguagem ou escola artística.
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